TOLEDOT

Posted on novembro 30, 2016

TOLEDOT

Por que Isaac Amou Esaú?

Uma parceria da Sinagoga Edmond J. Safra – Ipanema com o escritório do Rabino Jonathan Sacks (The Office of Rabbi Sacks)

Antes mesmo de nascerem, Jacob e Esaú lutaram no ventre. Eles estavam destinados, ao que parece, a serem adversários eternos. Não eram diferentes somente em caráter e aparência. Eles também tinham lugares diferentes no afeto de seus pais:

Os meninos cresceram, e Esaú tornou-se um hábil caçador, um homem do campo aberto, enquanto Jacob era um homem quieto, permanecendo entre as tendas. Isaac, que gostava de caça, amava Esaú, mas Rebeca amava Jacob. (Gen. 25:27-28)

Sabemos por que Rebeca amava Jacob. Antes que os gêmeos nascessem, as dores que Rebeca sentia eram tão grandes que “ela foi consultar o Senhor”. Eis o que foi dito a ela:

“Duas nações estão em seu ventre,
E dois povos de dentro de vós serão separados;
Um povo será mais forte que o outro,
E o mais velho servirá ao mais novo” (Gen. 25:23).

Parecia que D-s estava dizendo que o mais jovem iria prevalecer e levar adiante o peso da história; então era o mais jovem, Jacob, a quem ela amava. Mas por que, nesse caso, Isaac amava Esaú? Ele não sabia do oráculo de Rebeca? Ela não contou a ele sobre isso? Além disso, não sabia que Esaú era selvagem e impetuoso? Podemos realmente levar literalmente a proposição de que Isaac amava Esaú porque “ele gostava de caça selvagem”, como se suas afeições fossem determinadas pelo seu estômago, pelo fato de que seu filho mais velho lhe trouxesse comida que ele amava? Certamente não, quando o futuro da aliança estava em jogo.

A resposta clássica, dada por Rashi, escuta atentamente o texto literal. Esaú, diz a Torá, “sabia como enganar [yode’a tzayid]”. Isaac o amava “porque o enganava com sua boca [ki tzayid befiv]”. Esaú, diz Rashi, aprisionou Isaac pela boca. Aqui está o comentário de Rashi sobre a frase “sabia como burlar”:

Ele sabia como enganar seu pai pela boca. Ele lhe perguntaria: “Pai, como se deve retirar um dízimo do sal e da palha?” Consequentemente, seu pai acreditava que ele era rígido em observar os mandamentos (Rashi para 25:27).
Esaú sabia muito bem que o sal e a palha não exigem o dízimo, mas ele pediu para dar a impressão de que ele era estritamente religioso. E aqui está o comentário de Rashi sobre a frase que Isaac o amava “porque havia armadilha em sua boca”:

“A explicação midráshica é que havia um aprisionamento na boca de Esaú, que aprisionou seu pai e o enganou com suas palavras” (Rashi para 25:28).

O Maguid de Dubno acrescenta um comentário perspicaz de por que Isaac, mas não Rebeca, foi enganado. Rebeca cresceu com o astuto Labão. Conhecia o engano. Isaac, ao contrário, cresceu com Abraão e Sarah. Ele só conhecia a honestidade total e assim era facilmente enganado (Bertrand Russell uma vez comentou sobre o filósofo G. E. Moore, que ele só ouviu Moore dizer uma mentira uma vez, quando ele perguntou a Moore se ele já tinha dito uma mentira, e Moore respondeu, “Sim”).
Então a resposta clássica é que Isaac amava Esaú porque ele simplesmente não sabia quem ou o que Esaú era. Mas há outra resposta possível: que Isaac amava Esaú precisamente porque ele sabia o que era Esaú.
No início do século XX alguém trouxe para o grande rabino Avraham Yitzhak Kook, primeiro rabino-chefe asquenazi do pré-Estado de Israel, o seguinte dilema. Ele tinha dado a seu filho uma boa educação judaica. Ele sempre mantinha os mandamentos em casa. Agora, no entanto, o filho havia se afastado do judaísmo. Ele não mais guardava os mandamentos. Ele nem se identificava como judeu. O que o pai deveria fazer?
“Você o amava quando era religioso?”, Perguntou Rav Kook. É claro – respondeu o pai. “Bem, então” Rav Kook respondeu, “Agora ame-o ainda mais”.
Às vezes o amor pode fazer o que a repreensão não pode. Pode ser que a Torá nos diga que Isaac era tudo menos cego quanto à verdadeira natureza de seu filho mais velho. Mas se você tem dois filhos, um bem comportado, o outro passível de se sair mal, a quem deve dedicar maior atenção? Com quem você deve gastar mais tempo?
Pode ser que Isaac amasse Esaú não cegamente, mas com os olhos abertos, sabendo que haveria momentos em que seu filho mais velho lhe daria dor, mas sabendo também que a responsabilidade moral da paternidade exige que não desesperemos ou repudiemos um filho desobediente.
O amor de Isaac afetou Esaú? Sim e não. É claro que havia um vínculo especial de conexão entre Esaú e Isaac. Isso foi reconhecido pelos sábios:
Rabi Shimon ben Gamliel disse: Nenhum homem jamais honrou seu pai como eu honrava meu pai, mas descobri que Esaú honrava seu pai ainda mais (Devarim Rabá 1:15).
Rabi Shimon deriva isso do fato de que geralmente as pessoas servem seus pais vestindo roupas comuns enquanto reservam as melhores para sair. Esaú, entretanto, mantivera suas melhores roupas em prontidão para servir ao pai a comida que ele tinha ido caçar. Foi por isso que Jacob pôde usá-las enquanto Esaú ainda estava caçando (27:14).
Deparamo-nos, mais tarde na Torá, com o fato de que D-s proíbe os israelitas de guerrear contra os descendentes de Esaú. Ele diz a Moisés:
Dê ao povo estas ordens: “Você está prestes a passar pelo território de seus irmãos, os descendentes de Esaú, que moram em Seir. Eles terão medo de você, mas tenha muito cuidado. Não os provoquem à guerra, porque eu não lhes darei nenhuma parte de sua terra, nem mesmo o suficiente para pisar. Eu dei a Esaú a região montanhosa de Seir” (Deut. 2:4-5).
E mais tarde Moisés ainda comanda aos israelitas:

Não abomine um edomita [i.e. um descendente de Esaú], porque ele é teu irmão (Deut. 23:8).

Os sábios viam essas provisões como uma recompensa duradoura para Esaú pela maneira como ele honrava seu pai.
Então, Isaac estava certo ou errado em amar Esaú? Esaú retribuiu o amor, mas permaneceu Esaú, o caçador, o homem do campo, não o homem para levar adiante a exigente aliança com o D-s invisível e os sacrifícios espirituais que Ele pedia. Nem todos os filhos seguem o caminho de seus pais. Se era intenção de Isaac que Esaú fizesse isso, ele falhou. Mas há algumas falhas que são honrosas. Amar a seus filhos, seja o que eles se tornarem, é uma delas, pois é assim que D-s nos ama.

 

Texto original: “WHY DID ISAAC LOVE ESAU?” por Rabino Jonathan Sacks.
Tradução Rachel Klinger Azulay para a Sinagoga Edmond J. Safra – Ipanema

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