HOL HAMOED

Posted on outubro 21, 2016

HOL HAMOED

Sucot Para Nosso Tempo

Uma parceria da Sinagoga Edmond J. Safra – Ipanema com o escritório do Rabino Jonathan Sacks (The Office of Rabbi Sacks)

De todas as festas, Sucot é certamente aquela que fala mais poderosamente para o nosso tempo. Kohelet quase poderia ter sido escrito no século XXI. Eis o máximo de sucesso, o homem que tem tudo –  casas, carros, roupas, mulheres adoráveis, inveja de todos os homens – que possui tudo que este mundo pode oferecer, de prazer a posses, de poder a sabedoria e, ainda assim, quem, examinando a totalidade de sua vida só pode dizer, de fato, “sem sentido, sem sentido, tudo carece de sentido”.

O fracasso de Kohelet para encontrar significado está diretamente relacionado à sua obsessão com o “eu” e o “mim”: “Eu construí para mim. Eu recolhi para mim. Eu adquiri para mim”. Quanto mais ele persegue seus desejos, mais vazia sua vida se torna. Não há crítica mais poderosa da sociedade de consumo, cujo ídolo é o self, cujo ícone é o “selfie” e cujo código moral é “Tudo o que funciona para você”. Essa é a sociedade que alcançou riqueza sem precedentes, dando às pessoas mais opções do que elas jamais conheceram, e ainda assim, ao mesmo tempo, viu um aumento sem precedentes no abuso de álcool e de drogas, nos distúrbios alimentares, nas síndromes relacionadas com o stress, na depressão, na tentativa de suicídio e no suicídio real. Uma sociedade de turistas, e não peregrinos, não é aquela que vai obter o sentido de uma vida digna de ser vivida. De todas as coisas que as pessoas optaram por cultuar, o “eu” é o menos gratificante. A cultura do narcisismo rapidamente dá lugar à solidão e desespero.

Kohelet também foi, naturalmente, cosmopolita: um homem à vontade em todos os lugares e, portanto, em nenhuma parte. Este é o homem que tinha setecentas mulheres e trezentas concubinas, mas no final só podia dizer: “mais amarga que a morte é a mulher”. Deve ser claro para quem lê isso no contexto da vida de Salomão, que Kohelet não está realmente falando sobre mulheres, mas sobre si mesmo.

No final Kohelet encontra significado em coisas simples. Doce é o sono do trabalhador. Desfrutar a vida com a mulher que você ama. Comer, beber e desfrutar do sol. Em última instância, esse é o significado de Sucot como um todo. É uma festa de coisas simples. Judaicamente, é o momento que chegamos mais perto da natureza do que qualquer outro tempo, sentados em uma cabana somente com folhas como telhado, e pegando em nossas mãos os frutos não processados e folhagem do ramo de palmeira, a cidra, galhos de mirta e folhas do salgueiro. É um momento em que nos libertamos um pouco dos prazeres sofisticados da cidade e dos artefatos processados de uma era tecnológica, e recapturamos algo da inocência que tínhamos quando éramos jovens, quando o mundo ainda tinha o brilho da fascinação.

O poder de Sucot é que essa festa nos leva de volta às raízes mais elementares do nosso ser. Você não precisa viver em um palácio para estar cercado por nuvens de glória. Você não precisa ser rico para comprar as mesmas folhas e frutos que um bilionário utiliza para louvar a D-s. Vivendo na sucá e convidando outros para sua refeição você descobre – essa é a base dos Ushpizin, os convidados místicos – que as pessoas que vêm visitá-lo são nada menos que Abraão, Isaac, Jacob e suas esposas. O que torna uma cabana mais bonita do que uma casa é que, quando se trata de Sucot, não há diferença entre o mais rico dos ricos e o mais pobre dos pobres. Somos todos estranhos na terra, residentes temporários no universo quase eterno de D-s. E se somos ou não capazes de ter prazer, se encontramos ou não a felicidade, todos podemos de qualquer maneira sentir alegria.

Sucot é o tempo de fazer a mais profunda pergunta do que faz uma vida digna de ser vivida. Tendo orado em Rosh Hashaná e Yom Kipur para sermos escritos no Livro da Vida, Kohelet nos obriga a lembrar como a vida é realmente breve e vulnerável. “Ensina-nos a contar os nossos dias para que possamos obter um coração sábio”. O que importa não é o tempo que temos de vida, mas quão intensamente sentimos que a vida é um presente que pagamos doando aos outros. Alegria, o tema esmagador da festa, é o que sentimos quando sabemos que é um privilégio simplesmente estar vivo, inalando a beleza inebriante deste momento em meio à profusão da natureza, a abundante diversidade da vida e o sentido de comunhão com aqueles muitos outros com quem partilhamos uma história e esperança.

O que é mais incrível é que Sucot é a festa da insegurança. É o reconhecimento sincero de que não há vida sem riscos, mas podemos encarar o futuro sem medo quando sabemos que não estamos sozinhos. D-s está conosco na chuva, que traz bênçãos à terra, no amor que trouxe o universo e a nós a existência, e na complacência de espírito que permitiu a um povo pequeno e vulnerável durar mais que os maiores impérios que o mundo já conheceu. Sucot lembra-nos que a glória de D-s estava presente no pequeno Tabernáculo portátil que Moisés e os israelitas construíram no deserto, ainda mais enfaticamente do que no Templo de Salomão com toda a sua grandeza. Um templo pode ser destruído. Mas uma sucá, quebrada, pode ser reconstruída amanhã. Segurança não é algo que podemos alcançar fisicamente, mas é algo que podemos adquirir mental, psicológica e espiritualmente. É preciso somente ter a coragem e a vontade de se sentar sob a sombra das asas protetoras de D-s.

 

Texto original: “SUKKOT FOR OUR TIME” por Rabino Jonathan Sacks.
Tradução Rachel Klinger Azulay

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